A organização do Circuito da Boavista afirma que “foram mais de 200 mil os espectadores que estiveram a assistir ao Circuito da Boavista”. Quem passeou ao redor do trajecto viu que as bancadas estavam muito aquém de uma assistência em massa, algumas inclusive estavam praticamente desertas durante algumas provas.
A adesão do público
A maioria dos espectadores era constituída pelo público que preferiu não pagar bilhete para as bancadas e curiosos que viam um pouco das corridas e depois seguiam o seu caminho.
Questiono a forma como foram calculadas as 200.000 pessoas. É sem dúvida um número muito expressivo, como referência diga-se que a população residente na cidade do Porto é de cerca de 263.000 habitantes e que o número disponível de lugares nas bancadas era aproximadamente de 14.000 lugares.
Considerando 200.000 espectadores e a fraca aderência às bancadas pagas, seria de esperar uma enchente nas ruas ao longo do circuito. E isso foi coisa que não vi, haviam pessoas sem dúvida ao longo do trajecto, muitas por vezes e em alguns sítios, mas não creio que tantas…
Qual o método usado para fazer a estimativa? Foi a “olhómetro”? Muitas pessoas circulavam ao longo da pista durante o decorrer da prova, se calhar eram contadas inúmeras vezes!
Captação de turistas estrangeiros
Confesso também que não vi muitos estrangeiros, deparei-me com um ou outro grupo pequeno perto do Edifício Transparente (ET) e da "Zona Vip" instalada entre o Castelo do Queijo e o antigo Colégio Luso Internacional, mas a esmagadora maioria dos espectadores das provas eram nacionais, lusos de gema. Os poucos estrangeiros aparentavam pertencer às equipas automóveis.
O Circuito da Boavista parece ser um evento que ainda não conseguiu atrair turistas estrangeiros como seria desejável.
Será este evento um veículo eficaz de promoção internacional da imagem do Porto?
Para responder de forma séria a estas questões será necessários mais dados, nomeadamente da indústria hoteleira.
Tendo em conta que no último fim-de-semana de corridas decorreu também o Festival Super Rock Super Bock, será talvez mais interessante comparar dados de ocupação hoteleira do primeiro fim-de-semana para reduzir a interferência do festival de música no número de camas ocupadas.
O comércio e restauração
Relembro também que apesar de algumas esplanadas estarem mais cheias, como era o caso das esplanadas do Edifício Transparente, penso que a restauração e o comércio à volta do Circuito da Boavista não devem ter tido um aumento muito elevado de vendas.
Provavelmente a restauração do lado de Matosinhos beneficiou mais do que os restaurantes da baixa do Porto.
Claro que quem deve ter aumentado as vendas foi o "El Corte Inglés", instalado em local privilegiado em frente ao ET, local que aliás tem vindo a ser palco dos mais variados agentes económicos.
Lembro-me assim de repente de ver há algumas semanas um camião TIR (local excelente para colocar um veículo destas dimensões) de uma operadora de telecomunicações ou de uma tenda com uma feira de vinhos, até aos recentes stands de automóveis ao ar livre ali implantados.
Havia necessidade de ter um " El Corte Inglés" ali? Já não basta a “luta”que existe entre as grandes superfícies e o comércio tradicional no dia-a-dia?
Aquele espaço não pode ser simplesmente ser uma frente marítima? Ou para ter alguma função, não poderia ser idealizado algo com objectivos menos comerciais? Um parque da jogos para crianças com baloiços e afins, ou alguma exposição temporal sobre ambiente, poluição do mar, qualquer coisa mais útil do que vender, vender ,vender.
O Turismo de Portugal promoveu… o Algarve
Questiono também a afirmação do assessor de impressa do Turismo de Portugal quando disse que “as imagens do Douro e das caves do vinho do Porto vão ser vistas por centenas de milhões de pessoas no mundo inteiro " se foi cumprida.
“Centenas de milhões” parece-me mesmo um exagero, se pensarmos que a população europeia actual em centenas de milhões tem “apenas” quase 5. Mas admito que poderá ser verdade… que pelo menos viram as corridas…as caves já me parece que não.
De notar que o Turismo de Portugal investiu 1,6 milhões de euros no Circuito da Boavista.
Quando vi este valor pensei na tal promoção internacional da imagem do Porto. Mas qual não foi o meu espanto ao ver que dentro da tenda, situada ao lado do Corte Inglês, havia clássicos para venda, miniaturas, modelismo, venda de gomas (?) e um surpreendente stand do Turismo de Portugal, com promoção não ao Porto, não às caves, não à região norte, mas…. ao Algarve…
Sim, que bela mensagem demos aos poucos turistas estrangeiros que viram esse stand do Turismo de Portugal, venham a Portugal, ao Porto mas depois vão para o Algarve fazer praia que aqui não há nada!
Mas então fazer as corridas compensa?
Nestes grandes eventos há sempre quem goste e quem não goste. Quem ache muito bem porque é algo de diferente que acontece na cidade e quem ache que só traz inconvenientes.
A verdade será provavelmente um misto das duas posições.
Convém recordar que o investimento este ano nas corridas foi de cerca de 4.5 milhões de euros.
Será necessário reflectir sobre as vantagens e desvantagens deste evento. Os benefícios e as emoções das corridas compensam os investimentos e os inconvenientes?
O Porto tem sem dúvida espaços e capacidade para organizar eventos de elevada qualidade, quando digo Porto incluo tanto a iniciativa privada como a pública.
Apostar em atrair turistas é dar-lhes razões para vir à cidade do Porto e nada mais! Tão básico quanto isso!
Barcelona
Vejo o exemplo de cidades como Barcelona que é a segunda cidade de Espanha. Aceito que comparações entre as duas cidades seja difícil, mas deveria ser menos díficil.
Anualmente atrai muitos milhares de turistas e novos residentes. As pessoas sentem vontade de ir a Barcelona. Porquê?
Muito pelo que a cidade oferece através de festivais de música, arte, espectáculos, feiras internacionais, pela arquitectura, pelo desejo de aprender a língua, pelas praias, pela diversão nocturna, pela vivacidade e ritmo da cidade, pelos excelentes museus, e podia continuar com inúmeras razões…
É uma aposta diversificada, apontada para vários extractos sociais, económicos, etários e expectativas de vida em geral.
As corridas parecem-me uma actividade demasiado focada que acaba por não dar em nada, comparativamente com apostas diversificadas e actuais.
Porto se quer ser um destino turístico urbano ao nível europeu, tem de ser mais inteligente na forma de investir nos seus eventos internacionais e de ser mais competitivo e arrojado na oferta de razões para vir ao Porto.
Sem comentários:
Enviar um comentário