sábado, 5 de dezembro de 2009

Reflectir sobre algumas questões ambientais

DR

Como regresso ao falascreve, resolvi escrever sobre um tema muito na ordem do dia: ambiente, alterações climáticas e o papel da Ciência.

Um intenso debate tem sido travado na blogosfera e em alguns meios de comunicação estrangeiros devido ao chamado Climategate, que consistiu num ataque aos servidores da Climate Research Unit no Reino Unido, de onde foram retirados e tornados públicos centenas de emails trocados entre investigadores. Enfim o tema é complicado, oportunamente deixarei algumas referências sobre o tema.


Gostaria de notar que embora o denominado Climategate esteja a surgir na imprensa internacional, nomeadamente na britânica e norte-americana com alguma regularidade, em Portugal existe um profundo silencio nos média acompanhado de falta de debate, sintoma de que talvez o tema não seja merecedor da atenção dos portugueses, quiçá mais preocupados com o grupo que calhou a Portugal no Mundial.

Em primeiro lugar penso que o termo “negacionista” tem associado por natureza uma conotação negativa e injusta. Decerto existirão “negacionistas” de verdade, talvez aqueles que neguem tudo em Ciência, mas o termo é demasiado forte para aqueles que estão convictos de que é necessário e que faz parte do processo científico, por em causa, testar teorias e manter os horizontes abertos. Não deixar a comunidade científica repousar sobre verdades absolutas e deixar que o debate se torne ausente, unilateral ou demasiado político. Tem de existir necessariamente uma dualidade, um confronto, apoiado em factos e em raciocínios lógicos de ambas as partes.

Aqueles que sabem a ciência climática está completamente envolta em política internacional ao mais alto nível, com variados interesses de indústrias e sectores e que o mercado de CO2 a nível mundial pode valer biliões de euros, não podem deixar de perguntar: mas afinal quem lucra? Quem fica a ganhar? Aqui a resposta que se pretende não é a simples e politicamente correcta: a Humanidade ou o Ambiente, aqui o ”jogo” é tentar pensar um pouco mais à frente.

Coitados! Além de apelidados de “negacionistas”, são também apelidados de louquinhos adeptos das teorias da conspiração!

Aquele que ousar questionar demasiado ou pensar coisas impensáveis, tentar ler nas entrelinhas e ver para além do que é ditado pelos jornais e tv, ganha instantaneamente esta conotação.

O indivíduo que faça o esforço de usar a cabeça para pensar por sí próprio, tem cada vez menos credibilidade na sociedade actual.
Uma visão um pouco Orwelliana, no sentido do pensamento individual e da sua expressão.

Vejo muitas vezes defendido o aquecimento global de origem antropogénica com unhas e dentes e um intenso olhar de suspeita sobre quem questiona os porquês mais elementares dessa teoria.

Fico com a sensação de que quem questiona, porque quer realmente saber e entender, é rotulado de negacionista, como alguém que além de cometer a heresia de por em causa verdades científicas sagradas, quer poluição no mundo, pouca eficiência energética na sociedade e indústria, rejeita as energias renováveis, e não aceita que o clima está em alteração, enfim uma espécie de Freddy Krueger para os ambientalistas.

A meu ver a confusão criada pelos media e por outros meios ao rotular o CO2 como um poluente atomosférico, é uma atrocidade tremenda! Acredito que se for elaborado um inquérito à população para nomear um poluente atmosférico, o CO2 será referido na maioria das respostas! Gás esse que exalamos, as plantas consomem, os oceanos absorvem e libertam e tantos outros processos biológicos o utilizam.

Que interessa se a Petrogal (Refinaria do Porto), localizada ao lado de um núcleo urbano de grande dimensão, emitiu em 2007 para a atmosfera: 107Kg de cádmio, 500Kg de chumbo, 829Kg de crómio, 1.6 ton de zinco, 9.780 ton de SOx, quando foram emitidas 1.230.000 ton de CO2? Numa perspectiva de saúde pública ambiental, toxicológica e até racional, conclui-se que o CO2 é de longe o menos inofensivo para a população que vive ao redor da refinaria. Fonte.

A questão, excluindo até os acontecimentos do Climategate, é saber se hoje em dia existe algum tipo de censura ou discriminação, voluntária ou até involuntária, sobre cientistas que exploram teorias e alternativas às aceites pela generalidade da comunidade científica.
Eu penso que algum tipo de discriminação existe, acrescida de desconfiança e de rotolagem. Como tanto gostamos de por um rótulo em tudo e em todos!

Questão: será que o esforço para combater tão ferozmente o CO2 é justificado? As certezas científicas serão assim tão grandes, inquestionáveis e inabaláveis? Mas afinal não podemos estar a observar um período de mudança natural? A temperatura média global da Terra nunca é constante no tempo, na prática e em dado momento estaremos sempre num período de aquecimento global ou arrefecimento global, é natural que assim seja, é um equilíbrio dinâmico e não estático.

É certo que a Primavera chega mais cedo e o “tempo” parece que já não é como antes, mas a conclusão causa-efeito que é devido à actividade humana é assim tão directa? Está claro qye podemos controlar o equilíbrio dinâmico complicadíssimo da Terra, pela redução de emissões de CO2?

Não será “ingénuo” e até uma visão antropocêntrica pensar que reduzindo a concentração global de CO2 da atmosfera a 350 p.p.m. estará tudo ok com o clima, mas acima disso é o cataclismo climático? Que podemos regular a temperatura da Terra, na ordem da décima de grau Célsius como se de um termostato se tratasse? A Ciência actual e os modelos informáticos conseguem realmente atingir estes níveis de exactidão e confiança para datas tão longínquas? Os modelos climáticos usados para prever o clima a nível mundial, usam médias de médias de médias de temperaturas diárias, diurnas, nocturnas, mensais, de diferentes climas, regiões, além o tamanho da grid usada nesses modelos é da ordem das dezenas ou centenas de quilómetros.

Admitindo sempre que a actividade humana actual é extremamente danosa para a biosfera, para a diversidade, para a própria saúde humana. Mais uma vez é importante distinguir o poluente CO2, dos verdadeiros poluentes atmosféricos, da água e do solo. Distinguir os problemas ambientais digamos tradicionais, da urgência climática actual.

Com os mesmos recursos de tempo e dinheiro, não poderiam ser resolvidos outros problemas ambientais mais imediatos e óbvios? Mais recursos para investigação científica, investimentos em tecnologias e processos industriais limpos, diminuição da verdadeira poluição atmosférica, melhores sistemas de transporte público, verbas para a conservação da natureza e biodiversidade, assegurar água potável nos países em vias de desenvolvimento, doenças curáveis, promoção de energias renováveis em larga escala a nível doméstico, as smartt grids, produção descentralizada, apoios à processos produtivos biológicos de alimentos, reciclagem e análise do ciclo de vida dos produtos, projectos de despoluição de massas de água e solos, projectos de recuperação e restauração de ecossistemas e tantas tantas outras áreas de cariz ambiental e de desenvolvimento humano para actuar, que se houvesse uma verdadeira vontade de mudar o actual paradigma do estado do ambiente, seria pela resolução destas temáticas que as conferências de Kioto e de Copenhaga deveriam tratar.

Encaro a personificação do CO2 de inimigo público nº1 com alguma relutância. Simplesmente quando penso que a larga maioria das políticas ambientais que vão no sentido de reduzir o consumo de algo ou aumentar a eficiência de algo, fariam exactamente o mesmo sentido, mesmo que não emitissem CO2 para a atmosfera.

Dando um exemplo abstracto: mesmo que os actuais automóveis de combustão interna não emitissem CO2, continuaria a fazer sentido exigir motores mais eficientes ao nível do consumo de combustíveis fósseis, assim como continuaria a fazer sentido ter cidades com transportes públicos de elevada qualidade.

Com este artigo não pretendo assumir-me como um “negacionista” ou um “crente”, mas apenas reflectir um pouco sobre questões e temas pertinentes.
Usei a palavra “crente” propositadamente porque implica um sentido ligeiramente negativo.

Apenas para ficarem em pé de igualdade os termos “negacionistas” e “crentes”....

Sem comentários: