O décimo debate televisivo das eleições legislativas de 2009, que opôs o candidato socialista José Sócrates e a social-democrata Manuela Ferreira Leite, foi marcado pela falta de esclarecimento de propostas governativas de ambas as partes.
60 minutos a "encher chouriços"
O debate que opôs os dois candidatos favoritos ao cargo de Primeiro-ministro de Portugal foi o mais longo de todos, contando com mais 15 minutos que os restantes. Infelizmente, acréscimo de tempo não é sinómino de acréscimo de conteúdo.
Tenho de partilhar que notei algo de muito errado neste debate. Foi "encher chouriços" durante 60 minutos no que toca na apresentação de propostas a pôr em prática na próxima legislatura. Passso a explicar: é impressão minha ou durante todo o debate, Sócrates nunca e sublinho o nunca, enunciou uma única medida que se propusesse a cumprir na próxima legislatura na eventualidade da vitória do partido socialista. Um facto verdadeiramente notável tendo em conta os protagonistas e a natureza do debate.
José Sócrates sempre com os olhos no passado
José Sócrates esteve de facto muito mal em todo o debate, ou então tenho de aceitar que Sócrates é mesmo assim.
Revelou mais uma vez que é um político que aceita muito mal a crítica, dizendo mais do que uma vez "não sei do que está a falar", quando o tema não lhe era conveniente. Durante todo o debate insistiu doentiamente em repetir e inúmerar, como uma cassete antiga o que no seu entendimento foram os grandes feitos do seu mandato.
Aliás Sócrates nestes debates ao vivo é verdadeiramente irritante, tentando constantemente detorpar as propostas do adversário político, interpelando com comentários e por vezes com expressões faciais que parecem autênticas caretas. Consegue por vezes tirar interpretações abusivas e sem nexo das palavras de Manuela Ferreira Leite. Tenho no entanto que admitir que o líder do PS neste debate conseguir controlar-se num aspecto: não se vitimizou demasiado, como já é habitual.
Considero uma falta coerência que Sócrates tente passar a imagem de querer a modernidade do país e de ter os olhos postos no futuro, quando depois sai-lhe tudo furado nestes debates. Acaba por bater na mesmo tecla falando só do passado e nunca do que efectivamente propõe para o país.
A Sra. Dra. Ferreira Leite
A candidata social-democrata, por outro lado, resistiu bem às tentativas efectuadas pelo "sr. engenheiro" de ser atraída para o tipo de debate que Sócrates queria: uma inumeração constante das medidas tomadas pelo governo socialista com um discurso sempre acompanhado das palavras "mais, mais e mais", assim como passar a imagem de que o programa social-democrata é pobre em ideias.
Sócrates, que curiosamente tinha à sua frente um exemplar do programa eleitoral do PSD mostrou-o várias vezes. Fez mais publicidade do programa eleitoral do seu adversário político do que do seu. Alguém entende isto?
Dia 27 é que se decide
Bem, os debates acabaram. Para algo devem ter servido, cada qual saberá extrair o que de bom e de mau saíu de cada debate.
O sentimento generalizado de que vem mais do mesmo é compreensível, tendo em conta a qualidade de governos e de governantes que têm desfilado na cena política portuguesa.
Uma coisa é importante: votar. Esse é um dos passos necessários para que venha mais de outras coisas. Não existe só PS e PSD, existem outras alternativas que nunca foram governo. E não foram governo porque assim foi decidido democraticamente. Assim o é na democracia. O que é realmente importante é ter noção que o próximo governo será eleito por quem se dirigir às urnas, quem ficar em casa não conta. Numa sociedade democrática num momento de eleições, é como não existissem, como se a população portuguesa fosse subitamente amputada em centenas de milhares de cidadãos.
Que bom deve ser para essas pessoas ficar em casa a pensar que o voto delas não conta, ou que não há ninguém merecedor do seu voto e depois andarem a pagar impostos em excesso; a não terem financiamento para criar uma empresa quando o espírito empreendedor bate à porta; a queixarem-se que gastam todos os anos 200 euros por filho em manuais escolares; ou 1000 euros por ano em propinas numa universidade pública, ou que pagam num sistema de saúde público que tendencialmente deveria ser gratuíto e universal tal como consta na Constituição, ou que o patrão os despediu..
Na realidade não votarei em José Sócrates nem em Ferreira Leite, porque penso que o voto não deverá ser decidido nem condicionado num presuposto base de que um dos dois será o vitorioso e como tal, mais vale esquecer os outros partidos. O voto deverá ser guiado e baseado nas políticas que cada partido propõe executar e no carácter dos seus dirigentes. Ninguém se assuste com o tema da governabilidade, nem ninguém acredite que é vital uma maioria absoluta. O sistema político português não está feito a pensar em maiorias, mas sim na sobrevivência de um sistema que promova o confronto de diversidade de ideias de várias ideologias políticas.
Vídeo integral do debate entre José Sócrates e Manuela Ferreira Leite
Pode ainda visualizar qualquer um dos restantes 9 debates aqui assim como a série de reportagens da SIC "Os Candidatos Como Nunca Os Viu".
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